
Un momento da festa
O pasado venres 14 de decembro, nunha noite de treboada infernal, Verbo Xido conseguíu convocar un xeitoso grupo de persoas no Serán polas nosas árbores autóctonas. Ata cerca da media noite houbo boa festa no Bar-Restaurante O Meu Lar grazas á colaboración da escritora Susana Sánchez Aríns, natural de O Foxo ( A Estrada) que leu textos e poemas escritos para a ocasión, e á música e baile do grupo A Trepia e As pandereteiras de O Seixido.

Pandereteiras de O Seixido
Proxectouse un audiovisual sobre a loita que ven levando Verbo Xido desde o pasado mes de febreiro pola defensa das nosas árbores autóctonas.
Velaquí tendes algúns dos textos lidos esa noite por Susana:
o carvalho do fojo
no pátio da casa-escola nasceu um carvalho. foi miragreiro.
as mestras do fojo pediram um arranjo do pátio, porque a meninhada brincava nas poças quando a chúvia e na poeira quando o sol. o concelho encheu o pátio de grava. ademais, em cada recreo, uma turva de mais de corenta crianças (eram tempos em que as aldeias tinham crianças) irrompia no pátio feita marabunta.
e aí, no ermo de um pátio de grava esmagado por pés de meninhos corredores, nasceu um carvalho.
para nós foi tam miragreiro que nos lembro indo junto minha mãe anunciando a boa nova. como se em vez de carvalho nascera um cristinho. tinha que ter nascido dalgum espírito santo, porque na volta nom havia nengum carvalho grande que pudera fazer de pai, tam sequer putativo.
daquela, o rebento virou o nosso protegido. nom deixavamos a ninguém tocá-lo. se vinham dias de seca, regavamo-lo, arrincavamos as ervas para que colhera o sol… e aprendemos que isso de que as árvores galegas crescem lentas era uma mentira enorme. porque viamos a árvore crescer.
anos depois, nos nossos doze anos de tardes de verão enternas jogando ás escondidas, o agocho preferido era tombar-nos no chão por trás dum carvalhote que já nos chegava pola cintura. um carvalhote que saiu especial, pois deu em botar dous galhos e apontar ao céu em duas direcçons.
para que nom se sentisse sozinho nesse ermo de pátio de escola, roubamos no monte um acrivro e plantamos-lho ao carom. um dia descubrimos uma planta estranha agromando ao seu pé: a silbarbeira. e uns tempos depois, numa das nossas incursões no monte vizinho, demos com um triste e pequeneiro castanheiro abrindo-se caminho entre eucaliptos e pinheiros. decidimos que havia crescer melhor acarom do carvalho e uma tarde, uma panda de nenas e nenos surgimos da espessura custodiando ao meu irmão que puxava pola carretilha onde viajava à árvore rumo a um mundo novo.
hoje, carvalho, acivro, castanheiro e silbarbeira continuam a acompanhar as nossas vidas. estám grandes e frondosos. o pátio de grava virou jardim rebordante de árvores, que podem parecer velhas, mas nom tenhem mais de duas décadas. quando as minhas sobrinhas, hoje bebas, fagam os doze anos, e se incomodem com os avós porque nom as deixem sair ou jogar na play poderám fugir da casa, agatunhar árvores acima e ruminar a sua adolescência entre as folhas do carvalho.
e saberám o que nós ignoravamos: que esse carvalho nom foi um miragre mas o resto dum naufrágio: porque a casa-escola e toda a aldeia do fojo estám edificadas na que fóra a carvalheira do rei, pouco a pouco, em só cincuenta anos, tronçada e reduzida ao nada para erigir casas, cortes, eiras, alpendres e pistas.
a landra que abrolhou no pátio da casa-escola nom era outra cousa que a memória do lugar negando-se ao esquecemento.
-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
concentraçom parcelária
[fresca terra que me nasceu
a golpes de mar e areia
crescendo-me cara o céu
alçando-me forte e eterna.
seme de cem árvores som eu
carvalhos bidos azinheiras
é a saiva que o antes me deu
água mesta e mistureira.]
linhas rectas cara um horizonte desaparecido
quadrículas rachando a saba
o manto de vida que viviamos.
mapa traçado na terra
sobre rochas e folhas e tobos e poças
carta perfeita fingida
que borra as sombras e os minutos
os saltos e os descansos
as pegadas dos carros
os marcos as curvas os valos
a soidade de um caminho trabalhado a cada passo.
caminhos cruzados
iguais e sem pegadas
sem lombas que os distingam
sem valos que os separem
e pequenos
pequenos os montes que unem
míseras as àrvores que seguem
parvas as distâncias
sem sombra nem frescor.
som todos o mesmo nengum
e o caminho real? e aquele raposeiro?
e o de penide? currás? fogueteiro?
[ei! que os caminhos vieiros de agora som verdadeiros
que levam capa de rodadura
e grava e gravom e drenagem
sempre fojos
por vezes formigom]
sendas enormes
sem erva em que pousar
sem estalotes nos muros
sem silveiras nem silvas nem amoras:
lisura de terra seca
quadrívios sem história
idênticos nos limites na largura
na inutilidade.
linhas gêmeas com um só rumo
sem assento nem pausa
directas cara o nada.
memória habitada
tempo passado das avós
que contam de ti
carvalheira do rei
dona doutras idades
quando eras o fogar
a lareira a corte e o alpendre
e cresceches essa feira
dia de santos
cavalos gado e polbeiros
quando os moços mais garridos
temiam entrar-te
sem o sol do luar
espessura medonhenta.
velhinha que mirra e se desfaz
deixando de seres ti
para serdes vós
carvalhos carvalhotes
ergueitos com orgulho
e sozinhos
presidindo esta agonia
de lembranças sem porvir.
que farei eu agora?
que cantarei eu?
orfa de jogos e recordos
de lugares aquelados aos meus sonhos.
que vou fazer agora da minha infância
do meu futuro?
que vou amossar aos meus
orgulhosa
cheia de ter criado este universo
de ter-me criado nesta terra?
aonde levarei essas filhas que nom terei?
a que moínho se nom está?
a que fentos das cavernas?
a que casa encantada?
a que passado se mo arrassárom
com excavadoras
camions de cascalhos
e apissoadoras de progresso?
-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
sem perdom
pugem uma nogueira para os netos
eles hão comer das suas nozes
isso dixo meu avó num jantar de domingo
de quando en vez
nas brincadeiras horta fóra
surgia uma voz:
nenos, essa nogueira é vossa
seguiredes a comer nozes
quando eu já nom seja
e nós riavamos a toleria do velho
numa das últimas visitas
faltou verde por cima das telhas:
tia carme decidiu fazer lenha
ainda hoje nom lho perdoo